Reflexão sobre consumismo: a medíocre boneca caríssima

reflexão sobre consumismo

Esta é uma breve reflexão sobre consumismo, um caso verídico e quase engraçado. Vou contar uma história pessoal de como devemos ter cuidado com o bombardeio consumista a que nós e, principalmente nossas crianças, estamos sujeitos.

As estratégias de marketing são variadas e agressivas. Cabe a nós criar ferramentas para nos blindar contra os muitos apelos.

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Minha filha e a história de uma caríssima boneca sem graça

Quando minha menina era pequena surgiu no mercado uma boneca caríssima, chamada Baby Alive. Era uma boneca extremamente simples, de plástico, sem nenhum atrativo especial, e acredite, caríssima. Tipo, muito cara mesmo, chegando a 800 reais alguns modelos.

E uma das estratégias de divulgação que eles utilizaram para vender o produto foi colocar todos os canais de Youtube, voltados para o público infantil, para anunciar a tal boneca.

Virou uma febre. Não havia criança youtuber que não se divertia horrores com a boneca super sem graça. Os influenciadores inventavam várias maneiras de tornar aquela experiência mais rica e divertida. Porém, a criatura era sem sal mesmo.

Porém, o importante é que a estratégia foi super bem-sucedida e as crianças ficaram obcecadas pela tal Baby Alive. A ponto de minha menina ficar constrangida na escolinha particular em que ela estudava, pois ela era “a única que não tinha uma”.

Eu não estava em condições de comprá-la, contudo, me dispus ir à loja conhecer a dita cuja. E quando a vi, mal acreditei no descaramento e no grande poder da indústria de marketing.

A boneca era tão básica que até o cabelo era de plástico duro. E sequer tinha aqueles olhinhos que abriam e fechavam. Não fazia nenhum barulho. Enfim, suas concorrentes similares custavam facilmente vinte reais, mas a famosinha, como dito, chegava a oitocentos.

Foi então que tomei uma comprometida decisão.

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O pretexto para um diálogo aberto sobre consumismo e manipulação

Minha menina era criança, porém, ainda assim conversei seriamente com ela sobre a estratégia de marketing que estava sendo usada para vender aquela boneca.

Eu a fiz perceber como ela estava sendo manipulada e que o objetivo deles era fazer com que ela se sentisse mal por ser “a única menina da escola que não tinha” a boneca.

Dessa forma, conversamos sobre a importância da individualidade e de fugirmos de padrões que a sociedade nos impõem. E como somos constrangidos, e quase forçados, a fazer o que todo mundo está fazendo.

Enfim, eu poderia simplesmente ter dito que não tinha dinheiro e, mesmo que tivesse, não pagaria tão caro por uma boneca tão simples. Contudo, não quis perder a oportunidade de dialogar com minha filha.

Aliás, uma coisa que sempre prezei com elas foi o hábito de dialogar abertamente. E foi até disso que surgiu o livro Histórias de Gratidão. Muitas histórias resultaram de profundas conversas.

Uma “sociedade feliz”, reflexão sobre consumismo e aparências

Expliquei para minha filhinha como funciona a “sociedade do espetáculo”, tema que já pontuei em alguns artigos aqui. E se baseia no excelente livro de mesmo nome.

Basicamente o marketing vende conceitos e diz: se você fizer isso/ou então, se você comprar aquilo. Ou mesmo, porte-se dessa maneira para se destacar. Consuma tal e tal conteúdo, você será feliz e estará na frente da maioria das pessoas.

Sim, a competitividade é bastante estimulada: as pessoas morrerão de inveja, ou, lhe admirarão imensamente.

A galera segue a cartilha, e descobre que não funcionou tão bem assim, afinal, continuam se sentindo vazias, ou se sentindo mal, até mesmo deslocadas, etc..

Daí vem o efeito rebote, e aquela culpa tipo: caramba! Ou eu sou um caso perdido mesmo, nada funciona para mim. Ou, o velho e bom: está faltando só mais alguma coisa para completar meu sucesso e felicidade perfeitos. Só mais isso aqui!

E o marketing dirá: exato, agora faça esse ajuste aqui, porque o jeito antigo já ficou meio desatualizado. E dá-lhe mais consumo.

No caso específico da boneca é tipo: você comprou a boneca, mas agora tem as roupinhas, os acessórios, o carrinho de luxo para você carregá-la, o cachorrinho de plástico da boneca de plástico. E por aí vai… isso nunca termina.

E quando percebemos, passamos muito tempo, e gastamos muitos recursos e energia para nos enquadrar nos padrões e aparências. O resultado disso? Talvez ainda falte alguma coisinha.

Tipo: agora que você está “a gostosona”, só falta ter um relacionamento top, que banca toda essa sua superioridade. Repito: isso não tem limites.

Minha filha finalmente ganhou a boneca. E adivinha o que ela fez?

Devo dizer que não sou uma mãe tão consciente assim. E minha filha finalmente ganhou a boneca, quando o preço chegou aos limites da decência (embora eu ainda achasse caro para um pedaço de plástico duro).

Ela ficou felicíssima nos primeiros dias. Porém, depois que percebeu que o brinquedo era realmente sem graça, e que ela tinha outras bonecas com muito mais recursos, doou a queridinha.

Sim, ela simplesmente passou pra frente, sem dó nem piedade. E até hoje nunca mais tocou no assunto.

Ainda não sei se a culpa foi minha, às vezes com meu excesso de criticidade, com minha insistência em fazer essa reflexão sobre consumismo com minhas filhas. Ou se o objeto realmente não tinha muito a oferecer. Só sei que a história terminou assim. E eu e o pai dela jogamos um bom dinheiro fora.

Enfim, ponto positivo: acho que ela compreendeu um pouco sobre estratégias agressivas de marketing, mesmo disfarçadas por brincadeiras de youtubers pois, toda vez que vinha uma nova onda ela olhava para mim e nem dava muita bola pros brinquedos divulgados.

Conclusão: sobre uma sociedade consumista

Somos consumistas, quase todos nós. E eu também sou. É muito difícil estar completamente imune a isso. O bombardeio é constante e feroz. Contudo, isso não deve nos impedir de sermos mais conscientes e seletivos.

É muito importante, também, conversar com nossos filhos sobre o assunto. Alertá-los sobre essa eterna busca por se enquadrar em padrões que estão sempre mudando, ou que são, simplesmente, inalcançáveis.

E, sim, esse jogo pode começar com uma simples boneca. Cabe ao marketing domesticar-nos o quanto antes.

Pois bem! Esta é minha pequena e despretensiosa reflexão sobre consumismo, e como ele pode começar desde cedo, disfarçado de coisas corriqueiras.

O importante é não atrelarmos nossa paz e harmonia a isso. Não achar que precisamos sempre ser algo a mais, ou ter algo a mais, até mesmo fazer algo a mais para nos sentir bem. Não é mero clichê dizermos que, muitas vezes, menos é mais.

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No mais, desejo-lhe sucesso, saúde e serenidade.

Cintia Amorim.

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